Tormenta pessoal

 Todos nós passamos por fases de indefinição na nossa vida. 

São tempos complicados para a nossa essência, sentimos-nos perdidos, desapaixonados, sentimo-nos em causa na nossa existência. É normal, sei que já aconteceu com todos e se não aconteceu irá acontecer, desculpa dizer-te.

O problema desta fase é, no meu ponto de vista, apenas um: a sua não aceitação. 

Como disse, todos passam por isto, mais cedo ou mais tarde. Mas quase todos também a condenam. E o motivo disso, mais uma vez na minha opinião, é a sociedade atual. Sociedade essa, em que tudo parece estar bem, quando não está. Os nosso ídolos parece que nasceram sem dúvidas, a saber qual era a sua missão. As modelos das redes sociais parecem que vivem num constante estado de felicidade e de bem estar fisico e psicológico, quando muitas vezes estão na miséria emocional. Os empresários multimilionários ou mesmo apenas os bem sucedidos, parecem que vivem no auge da sua vida, sem problemas não é? (afinal de  contas o dinheiro resolve tudo). Mas não podem ir à rua sem um guarda-costas, têm a sua vida descortinada a torto e a direito, se calhar até problemas de confiança têm, porque deve haver sempre parasitas a pairar.

No entanto, nós na insignificância do ser, na ingenuidade da inveja, ambicionamos o que os outros têm.

Lembro-me de quando estava no terceiro ciclo, havia um colega que admirava. Não o admirava por ser bom aluno ou por ser inteligente. Admirava-o porque tinha jeito para as raparigas, todas achavam-no piada, e eu pensava porquê? Eu não me considero feio, não me considero pequeno, acho que tenho piada, sou interessante, porque é que o Diogo (nome fictício) tem mais sucesso entre elas do que eu? 

Pus-me a observá-lo, ele era meu amigo, por isso a tarefa era fácil. Ao início só via coisas positivas, era bom aluno, tinha pinta, as raparigas diziam que ele era "todo bom" (gíria de 9º ano), era um atleta de sucesso. No entanto eu pensava, mas eu também sou assim e até tenho mais piada do que ele....porque não tenho o mesmo sucesso que ele entre elas? 

Comecei a reparar que ele tinha defeitos. "Afinal ele tem defeitos!!!" pensei eu, mas porque é que os defeitos dele não são visíveis aos olhos delas? Aprendi nesse dia uma grande lição, que ainda hoje tenho presente. Todos nós temos qualidades, muitas delas, mas temos ainda mais defeitos. A diferença é que o Diogo sabia que as tinha e enfrentava-as, quase como esses defeitos fossem qualidades, pois esses defeitos eram parte da sua essência. Já eu deixava as minhas inseguranças atormentarem-me.

Com o tempo aceitei os meus defeitos e a cada dia que passo aparecem mais um ou outro, mas em vez de ficar triste aceito-os, analiso-os e tento corrigir na parte em que é possível. Tento melhorar-me, mas nunca me martirizo por os ter. Gosto deles como gosto das minhas qualidades, são eles que me distinguem de outras pessoas, são eles que me fazem estar entretido a melhorar como pessoa, a observar-me, analisar-me. Só tenho a agradecer por os ter. 

No entanto, apesar de já saber lidar com as minha imperfeições, continuo meio perdido, não sei o que fazer da minha vida. Não sou nenhum Mozart que sabe que vai ser compositor e pianista, não sou nenhum Elon Musk, não sou sequer um apaixonado por colecionar cartas. 

Como posso eu ser feliz sem saber o que quero? 

Não preciso de ter a resposta, sabem porquê? Porque aí é que está a piada da nossa existência. Não quero ser jogador de futebol, ótimo vou experimentar outras coisas. Não quero ser cozinheiro, ótimo vou experimentar ser relações publicas de uma empresa. Não sei se quero ser engenheiro a tempo inteiro? Boa vou escrever num Blog para ver se endireito a minha cabeça. 

A não vinculação a algo que adora-mos não é necessariamente uma coisa negativa, pode ser bem positiva. Não gostas do teu trabalho, muda. Não gostas da tua casa, muda. Não gostas do teu estilo, muda. 

Se tudo muda na natureza, porque é que tu não hás-de mudar? 

Abraça esta fase de indefinição e assume: vou experimentar coisas, vou sair da rotina, vou comer comida que acho que não gosto, vou experimentar música alternativa, vou conhecer pessoas novas, vão existir boas surpresas. Pessoas novas trazem novas oportunidades, novas oportunidades trazem novos prazeres, novos prazeres trazem novas emoções e se tudo correr bem, a felicidade. Não podemos ter medo da mudança e do combate à inércia.

Um dia quando menos esperares, a tua missão vai fazer sentido, vais te sentir realizado, nessa altura vais perceber que foi graças à fase em que te sentiste perdido que chegaste onde chegaste.


 

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